A espetacularidade é absoluta em Missão: Impossível – O Acerto Final (“Mission: Impossible – The Final Reckoning”). Como já aconteceu nas sete entregas anteriores, todas com orçamento elevadíssimo e enormes bilheterias – com centenas de milhões de dólares na dança.
O espectador que assistiu a algum dos títulos anteriores da saga sabe o que vai procurar e o que lhe será oferecido. E, sem dúvida, será recompensado. Tom Cruise tem suficiente carisma e antecedentes como ator, inclusive nesta saga, para ser um fator de atração de público de massas. Além disso, os mencionados filmes também trouxeram ação em abundância, outro ímã para multidões. E os mesmos são lembrados rapidamente, com imagens nesta nova entrega, talvez a última.
Justamente, Ethan Hunt, sempre protagonizado por Cruise, continua sendo um agente secreto estadunidense. Integrante da “Impossible Missions Force” (IMF). Agora deverá aceitar um novo desafio: uma Entidade cibernética, anônima e daninha, que começa a controlar os principais centros nucleares dos países que têm essas armas, sofisticadas e totalmente destrutivas. O principal alvo será o centro dos Estados Unidos. E o objetivo final é dominar o mundo e transformá-lo drasticamente, com a aniquilação da organização e da vida atuais.
Fantasia que se assemelha a outras grandes produções cinematográficas dos Estados Unidos (“Independence Day” [1996] ou Grã Bretanha (a saga do 007/James Bond, outro espião, neste caso, inglês). E, em geral, aventuras de super-heróis. Mundo em perigo, ameaçado por elementos sinistros, que deve ser salvo por um herói, depois de superar perigos maiusculos. Típica prolongação de mitos remotos, de relatos míticos e suas figuras.
Em Missão: Impossível – O Acerto Final, a trajetória de Hunt inclui força, agilidade, inteligência, emoção, algo de romance, e situações de extrema periculosidade. Assim também estão as decisões da presidenta (Angela Bassett), a aproximação profissional e apaixonada da “colega” Grace (Hayley Atwell), e ações sempre audaciosas, na terra, no fundo marítimo e, em especial, no ar. Não falta fogo, talvez para completar o quadro com os quatro míticos componentes básicos, clássicos constituintes de tudo o existente neste planeta. Portanto, há sequências na terra, e sobretudo, submarinas e aéreas (com aviões biplanos). Sendo estas últimas as que mais sobressaem.
Para serem superados os obstáculos, as armações que favorecerão o protagonista demandam muitíssima precisão. Com esses elementos e tantos outros, a trama não perde sua condição de aventura, em modo permanente, ao longo das quase três horas de duração. Embora a primeira parte apresente toques de humor e ironia. Depois não haverá mais possibilidades de possuir esses “inserts” e, com exceção de alguns momentos emotivos quase no final, passará definitivamente a um tom mais violento e, inclusive, apocalíptico.
Com relação a isto, deve-se apontar que há muitas referências judeu-critãs: a Arca de Noé, a cruz – decisiva para abrir um denominado código-fonte – , a inminência do Apocalipse, personagens como o anjo Gabriel, outro chamado Luther (como o líder batista Martin Luther King), uma chefa de um navio nuclear que acredita em São Cristovão; um inimigo é identificado como “antideus”, outro individuo é definido como “o escolhido” etc.
Além do anterior, há diversas reflexões sociais e outras, quase místicas: “Vivemos e morremos nas sombras”, “(Este é) o fim da lei”, “Há diferença entre um bom ladrão e um ótimo ladrão”, “Nossas vidas não são um único ato; são a soma de nossas escolhas”; “Não somos russos nem estadunidenses, todos somos seres humanos”. Nessa linha, destaca-se um discurso sobre o mundo e os humanos em uma das últimas sequências, que dará para refletir mais sobre seu conteúdo quando exista a possibilidade de ter acesso ao texto completo.
No elenco, Tom Cruise, talvez favorecido pela sua condição de coprodutor e sua figura carismática, tem um papel muito preponderante (excessivamente ?),mas outros atores e atrizes devem ser mencionados: Esai Morales (paradoxalmente como Gabriel, o perverso vilão que quer dominar a Entidade para, subsequentemente, ser dono do mundo), Ving Rhames (o avançado técnico salvador); Simon Pegg (outro bom acompanhante do protagonista), todos profissionais e personagens com antecedentes na saga.
Fotografia, incluindo cenas aquáticas e aéreas e com drones (Fraser Taggart. responsável principal, utilizando muitos planos próximos dos rostos), edição (Eddie Hamilton), música (a original, do argentino ‘Lalo’ Schifrin, e a específica [Max Aruj e Alfie Godfrey], com poucos mas efetivos temas musicais), efeitos visuais, efeitos especiais e demais itens técnicos, todos criados em função da sensação de dinamismo e ação drástica. Curiosamente, embora os responsáveis não sejam na sua maioria profissionais de ampla experiência, conseguem atingir o patamar requerido. Tudo sob direção de Christopher McQuarrie, também corroteirista e coprodutor, com base em série televisiva roteirizada por Bruce Geller. McQuarrie realiza, assim, seu sexto longa-metragem nesta coordenação geral, quarto na franquia ‘Missão: Impossível’.
Considerando o caráter heroico desta realização, pode-se dizer que há espectadores “realistas” (que gostam de filmes que, supostamente, reproduzem o que acontece no dia-a-dia ou na “realidade” externa, familiar, social etc.) e outros que gostam de recriações, fantasias etc. Como for, o cinema é uma criação de roteiristas, diretores, atores/atrizes, pessoal ‘técnico’ (fotógrafos, editores, músicos e demais). Mas para aqueles que gostam de “verossimilhanças”, os do primeiro grupo, este filme não é adequado. Para os outros, os que gostam de ficção, ainda que extrema, Missão: Impossível – O Acerto Final, será um verdadeiro prazer.
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